quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Conteúdo

Dados Biográficos:

Josef Breuer, um austríaco nascido em Viena em 15 de janeiro de 1842 e falecido em 20 de dezembro de 1925 na mesma cidade, era filho de Leopold Breuer (1791-1872), um judeu liberal professor de religião em Viena, e Bertha Semler, que morreu em um parto quando ele tinha apenas quatro anos de idade. Após a morte se sua mãe, Breuer passou a ser criado pela avó materna.

Quando tinha oito anos, Breuer entrou no Ginásio Acadêmico de Viena, onde passou para a Abitur – graduação para o colegial – em 1858. Permaneceu durante um ano na Universidade de Viena para estudos gerais antes de entrar na universidade médica em 1859, se formando em 1864. Após defender sua tese de doutorado em 1867 e ser premiado com o titulo Privat-Dozent, Breuer imediatamente tornou-se assistente do internista Johann Ritter Von Oppolzer (1808-1871) na clínica médica em Viena, o Instituto de Psicologia (Institute of Physiology), dirigido por Ernst Von Brüke.

Foi neste contexto que, em 1880, ele conheceu Freud, 14 anos mais novo do que ele. A relação entre Freud e Breuer foi bem característica dos laços que Freud iria estabelecer durante aqueles anos e até mais tarde – uma mistura de dependência, admiração e competição. Breuer teve um papel paternal para Freud, até mesmo financiando seu colega mais novo nos anos que estabelecia sua vida familiar. O caso de Anna O., tratado por Breuer, seria a fonte de publicações como a famosa “Estudos Sobre a Histeria” (Studies on Hysteria), em 1895. Com a publicação deste livro, marcando os desacordos teóricos entre os dois homens, a relação entre Breuer e Freud foi quebrada. Muitos anos depois, após a morte de Breuer, Freud foi profundamente intencionado a aprender, de um amigo em comum, que Breuer tinha acompanhado simpaticamente a evolução da sua vida e carreira.

Em 1868, Breuer casou-se com Matilda Altmann, que deu a luz cinco filhos: Robert, Bertha (nome dado em homenagem à mãe do Dr. Breuer) Hammerschlag, Margaret Schiff, Hans e Dora. Quando Oppolzer morreu em 1871, Breuer desistiu da sua assistência e entrou na prática privada, ao passo em que conduzia pesquisas em sua casa. Ele foi eleito pela Academia de Viana de Ciência em 1894 pela nominação dos três membros mais distintos: o médico Ernst Mach e os fisiologistas Ewald Hering e Sigmund Exner. Em 1894 foi apontado como Membro Correspondente da Academia Imperial de Ciências.

Sua filha Dora cometeu suicídio para não ser deportada pelos alemães. A neta de Breuer Hanna Schiff foi assassinada pelos nazistas. Os restantes dos seus descendentes vivem na Inglaterra, Canadá e Estados Unidos.
Dados Profissionais

Quando tinha oito anos, Josef Breuer entrou no Ginásio Acadêmico de Viena, onde se graduou para o colegial em 1858. Ele então foi para a universidade de Viena por um ano para estudos gerais, antes de entrar na universidade médica em 1859, formando-se em 1864. Após defender sua tese de doutorado em 1867, Breuer imediatamente tornou-se assistente do internista Johann Ritter Von Oppolzer (1808-1871) na clínica médica em Viena. Na sua posição ele pesquisou acerca das questões fisiológicas da temperatura na regulação da respiração. Quando Oppolzer morreu em 1871, Breuer desistiu da sua assistência e entrou na prática privada. No seu período ele fez investigações épicas na anatomia e função do ouvido interno, descrevendo o que é agora conhecido como a teoria Mach-Breuer do ouvido interno. Esta pesquisa foi a base para a sua habilitação para medicina interna em 1875, quando ele recebeu a "venia legendi" – a permissão para ensinar como docente privativo. Ele desistiu da sua venia legendi 10 anos depois, provavelmente tanto por causa das altas demandas da sua prática médica, e porque ele sentiu que foi erradamente negado o acesso a pacientes para fins educacionais.Breuer não teve pupilos e nenhuma afiliação permanente com universidades ou institutos, mas ele foi um dos grandes fisiologistas do séc. XIX. Seu maior trabalho científico – feito com o professor Karl Ewald Konstantin Hering em Josephinum em Vienna – rendeu-lhe uma grande fama. Sua próxima pesquisa foi sua longa série de investigações da função do labirinto (ouvido interno), memorável pela sua importância e mais ainda, pois ele a conduziu privadamente, trabalhando em sua própria casa e financiado somente pela sua prática médica. Em 1873 ele descobriu a função sensorial dos canais semicirculares no ouvido interno e sua relação com o senso de equilíbrio.

O conceito da teoria psicológica de Breuer remonta do seu tratamento à Bertha Pappenheim, conhecida pelo pseudônimo Anna O, uma mulher de 21 anos seriamente com distúrbios mostrando vários sintomas histéricos, no verão de 1880. No seu tratamento, Breuer inventou sua catarse, ou terapia da conversa. Freud tornou-se tão fascinado por este caso que seguiu detalhadamente por muitos anos, e mais tarde começou a usar este “tratamento catártico” sob o ensino de Breuer. O tratamento de Breuer de Anna O. foi o primeiro exemplo moderno da psicoterapia profunda por um longo período de tempo. Em 1893 Breuer e Freud somaram suas explorações num texto "Sobre o mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos", e em 1895 “surge” uma nova forma de psicoterapia em “Estudos Sobre Histeria”. Em 1896 Breuer e Freud separaram-se e nunca mais se falaram. Pareceu haver desacordos sobre a questão da realidade das memórias dos pacientes terem sido seduzidos na infância. Porém, apesar das diferenças entre os dois homens, suas famílias mantiveram contato próximo.

Breuer foi um homem de interesses culturais muito grandes, amigo dos maiores intelectuais da época. Entre seus amigos estava Ernst Mach, que conheceu na época do seu trabalho com labirinto. Apesar da sua atividade como fisiologista e prático clínico, Breuer também era profundamente interessado por filosofia e a fundação teórica do Darwinismo. Seu slogan era "suum esse conservare"- preservação mental e da natureza do indivíduo. Breuer foi considerado um dos melhores médicos e cientistas de Viena, e ele era médico de muito dos professores da faculdade de medicina, assim como de Sigmund Freud e do primeiro ministro da Hungria. Ele foi eleito pela Academia de Viana de Ciência (Viennese Academy of Science) em 1894 pela nominação dos três dos mais distintos membros: o médico Ernst Mach e os fisiologistas Ewald Hering e Sigmund Exner. Em 1894 ele foi apontado como Membro Correspondente da Academia Imperial de Ciências. Ao todo, Breuer publicou aproximadamente vinte artigos em fisiologia num período de quarenta anos.
Dados Profissionais - O Caso “Anna O.”

Bertha Pappenheim (1859-1936), mais conhecida como Anna O., era neta de um personagem importante do gueto judeu de Pressburg e havia herdado uma grande fortuna. Seu pai era um rico comerciante de cereais em Viena e sua família pertencia a uma comunidade judaica estritamente ortodoxa. Sabe-se pouco sobre sua infância e adolescência. Ela falava inglês fluentemente, lia francês e italiano e levava a vida habitual das jovens vienenses da alta sociedade, praticando esportes ao ar livre, sobretudo a equitação.

Ao nascer, seus pais já tinham uma filha de dez anos que morreu quando Bertha contava oito anos, e haviam perdido a segunda aos quatro anos. Um ano após o nascimento da paciente, nasceu seu irmão caçula, que segundo os dados aportados por Lucy Freeman, foi criado como um príncipe. Bertha sempre foi muito apegada a seu pai que lhe ensinou a ler aos quatro anos de idade. A rivalidade com seu irmão aparece em seus depoimentos, quando se queixa de que seus estudos foram medíocres enquanto para ele, um estudante menos brilhante, não se pouparam quaisquer gastos. Queixava-se sobretudo, de que para ela, uma jovem inteligente e imaginativa, haviam sido destinados o piano e os bordados.

Além das dificuldades de relacionamento com o irmão, Bertha não se dava muito bem com sua rígida genitora, mas devotava ao pai que a mimava, um amor verdadeiramente apaixonado. Jamais havia se enamorado, o que pode ser explicado pela intensa fixação paterna. Apresentava ainda uma obstinada e pueril oposição às prescrições médicas e à religião.

Seu temperamento forte e altivo aparece numa frase escrita em 1922, "se houver justiça no mundo de amanhã, esta será: as mulheres farão as leis e os homens trarão os filhos ao mundo". Sua dificuldade de identificação feminina é revelada pelo pseudônimo escolhido para assinar seus primeiros livros, Paul Berthold (tirado de suas próprias iniciais B. P., invertidas), Berthold é também a versão masculina de seu nome. Outra de suas frases que assinalam sua insatisfação com o papel feminino é: "...Devido à natureza das coisas as meninas são as que sofrem, os meninos são os que aproveitam a vida".

Segundo Breuer, Anna O. tinha 22 anos quando adoeceu em 1880. Era uma jovem inteligente e criativa, ainda que caprichosa e obstinada. Havia um grande contraste entre os anseios da paciente e a vida monótona que levava em casa. Isso a conduzia a um mundo de fantasias, histórias que inventava para si mesma e que se constituíam no que ela denominava seu "teatro privado". Entretanto, tais devaneios não comprometiam sua vida cotidiana e sua família não estava a par do que lhe ocorria.

De julho a dezembro de 1880, Anna cuidou de seu pai que apresentava uma doença pulmonar grave. Passava as noites à sua cabeceira e dormia um pouco durante a tarde. Ficou tão extenuada que foi preciso mantê-la afastada de seu pai. Nessa época, apresentou acessos de tosse e períodos de sonolência e inquietação que duravam toda a tarde. Estes sintomas, entretanto, não chamaram a atenção da família, nem da própria paciente. Em dezembro, ficou acamada e começou a apresentar uma série de sintomas, estrabismo, paralisias, contraturas e zonas de anestesia cutâneas. Falava de forma quase incompreensível, uma mistura de quatro ou cinco idiomas. Às vezes se comportava normalmente, mas parecia deprimida: outras, mostrava-se caprichosa, inquieta e dizia ver serpentes negras. Nesse momento, Breuer foi chamado para tratar a paciente. A paciente passou a falar com seu médico em inglês, idioma que só ambos conheciam, mas entendia tudo o que lhe diziam em alemão. À tarde, caía em um estado de sonolência que denominava de "clouds" (nuvens) e parecia em transe hipnótico. Breuer a visitava nessas ocasiões e ele lhe contava seus devaneios, geralmente histórias de uma jovem ansiosa ante a presença de pessoas enfermas. Quando despertava, sentia-se aliviada. Ela própria deu a estas conversas com Breuer, o nome de "talking cure" (cura pela palavra) e "climney sweeping" (limpeza da chaminé). Em março, estava bastante melhor, mas no dia cinco de abril a notícia da morte do pai causou-lhe um grande choque. Os parentes havia lhe escondido a verdade acerca do estado de seu pai e ela reagiu muito mal a isso. Dizia que lhe haviam roubado seu último olhar e suas últimas palavras. Passou dois dias em estado estuporoso e recusava-se a falar com os parentes, alegando não entender sua língua nativa. Breuer era o único que aceitava e reconhecia, chegando a ter que alimentá-la.
Dez dias após, Breuer teve que viajar e outro médico foi chamado. Anna comportou-se como se não o enxergasse. O médico tentou fazer-se notado, soprando-lhe a fumaça do cigarro no rosto. Ao que a paciente reagiu com uma crise de raiva e ansiedade. Quando Breuer retornou, passou a hipnotizá-la e ela lhe falava sobre as visões que a perturbavam, método que a deixava mais calma e aliviada. Outro dos sintomas apresentados era a impossibilidade de beber água, a paciente vivia de sucos e frutas. Certo dia, durante a hipnose, contou a Breuer sobre o início de seu sintoma. Havia visto o cão da governanta beber água em um copo dos que se usavam na casa, foi tomada de nojo, mas evitou falar com a senhora. Quando saiu do transe pediu um copo e bebeu normalmente. A partir de então, médico e paciente passaram a rastrear o início de cada sintoma e, um a um, eles foram desaparecendo. Em junho estava assintomática e recebeu alta. Alguns dias depois, voltou a ficar agitada e foi internada em um sanatório perto de Constam, na Alemanha. Permaneceu internada de 12 de julho a 29 de outubro de 1882 e tomou altas doses de cloral e morfina para aplacar as dores de uma suposta neuralgia do trigêmeo. Breuer não voltou a tratar dela e segundo os informes do hospital, era uma paciente difícil que costumava criticar a ineficácia da medicina em relação a seus padecimentos e que passava horas diante da fotografia de seu pai.

Após recuperar-se de sua doença nervosa, Bertha dirigiu, a partir de 1895, um orfanato, fez várias viagens aos Balcãs, Oriente Médico e Rússia para fazer investigações sobre o tráfico de escravas brancas e sobre a prostituição. Em 1904, fundou a Liga de Mulheres Judias e três anos após, um estabelecimento de ensino filiado a essa organização. Foi responsável também pela criação de casas de recuperação de prostitutas. Todo esse trabalho social fez dela a fundadora do serviço social na Alemanha e uma das primeiras mulheres a lutar pelos direitos femininos, no início do século. Morou com sua mãe até o falecimento desta e morreu solteira em Frankfurt, em 1936.

O que Breuer evitou dizer sobre sua famosa paciente foi que havendo lhe dado alta e estando prestes a viajar com sua esposa para as férias de verão, foi chamado às pressas à sua casa. Encontrou-a muito agitada, contorcendo-se com dores abdominais. Indagada sobre o que lhe passava, respondeu: "...agora é o filho de Dr. Breuer que está chegando". Assustado, Breuer retirou-se e entregou o caso a um colega.

O fato lhe abalou tanto, que numa carta a Auguste Forel, ele diz: "...jurei nesta época que não voltaria a passar por tal provação... ". Toda vez que tais pacientes o procuravam ele os encaminhava ao jovem Dr. Freud, que havia regressado de Paris, onde estudara com o famoso neurologista, Jean Martin Charcot. Mesmo assim, Breuer continuou a se interessar pela histeria e costumava discutir estes casos com Freud. A colaboração entre eles deu origem, à "Comunicação Preliminar", anterior aos "Estudos", onde os autores dizem que: os histéricos sofrem, principalmente, de reminiscências.

Breuer era o protótipo dos antigos médicos de família, atencioso e capaz de passar várias horas à cabeceira de seus enfermos. Entretanto, ele nada sabia da sexualidade infantil, do complexo de Édipo e da transferência, que só foram descobertos por Freud muito tempo após o tratamento de Anna O. Mas ele foi o primeiro médico capaz de escutar os segredos de sua paciente. Mas do que julgar, se tais idéias eram absurdas ou não, ele ouvia, evitando o método da sugestão hipnótica utilizado na época por Charcot e seu discípulo, Pierre Janet. O desconhecimento dos fenômenos supracitados fez com que fugisse apavorado, diante da gravidez fantasmática de Anna O. Ele não entendeu o que se passara, achava que não fizera nada para que a paciente se apaixonasse por ele, além do mais: "...o elemento sexual parecia ausente nela", diz em seu relato do caso. Ele ignorava que, é sobretudo o não dito que faz presença e que é capaz de provocar as reações menos esperadas num relacionamento interpessoal. A contratransferência, que também é definida por Lacan, como a soma dos preconceitos, das paixões, dos embaraços e mesmo da insuficiente informação do médico, atuava em Breuer.

Ele foi imprudente o bastante, segundo conta Lucy Freeman, para levar sua paciente a passear pelo Prater, em companhia de sua filha. Inconscientemente, fazia com que ela se tornasse um membro de sua família. Não se sabe quais seriam as fantasias deste homem, cuja filha se chamava Bertha e cuja mãe, de mesmo nome, morrera ao dar a luz. Em uma apresentação pessoal para a Academia de Ciências, Breuer escreveu que sua mãe havia falecido na flor de sua juventude e beleza. Seus conflitos inconscientes, seu Édipo não analisado, funcionaram como ponto cego, fazendo com que ele não se desse conta do que ocorria.

Um fato relatado por Freud dá testemunho do que foi o caso Anna O. para Joseph Breuer. Certa vez, dez anos após o incidente, Breuer chamou Freud para examinar uma paciente sua. Tratava-se de uma jovem, "virgo intacta", que apresentava vômitos, amenorréia, obstipação intestinal, abdômen timpânico e distendido. A família relatou que quatro meses atrás, uma das irmãs da paciente havia se casado. Freud compreendeu que a moça, por inveja da irmã, reagira mediante uma identificação com sua situação de casada e fizera uma pseudociese. Entusiasmado com a presteza de seu diagnóstico, ele disse para o amigo: "estamos diante de uma gravidez histérica". A reação de seu colega mais velho foi surpreendente: pegou o chapéu e a bengala e retirou-se da casa sem ao menos se despedir. Era demais para o Dr. Breuer, a coisa se repetira. Ele também sofria de reminiscências.
Obras e Principais Idéias

A intenção nas Considerações teóricas, texto escrito por Breuer em 1895 como parte dos “Estudos sobre a Histeria” é a de uma elaboração teórica geral para a histeria. Para este fim, buscou-se a aproximação dos mecanismos da histeria traumática e da histeria corrente, de forma que esse mecanismo fosse comum a ambas. Isso porque parte-se do pressuposto de que toda histeria é resultado da reprodução de um trauma. Então, é da memória que se está falando e é nela que se deve procurar a explicação dos fenômenos histéricos. Lembremos a famosa frase de Breuer, ao final da parte I da Comunicação preliminar de 1893: "... o histérico padece, na maior parte, de reminiscências" (BREUER e FREUD, 1893, p.3). O mecanismo da conversão histérica vai ser remetido à memória. Se uma irrupção afetiva ocorre, o afeto ligado à representação que o provocou pode ser abreagido e, deste modo, "desgastado". Por outro lado, se não houver abreação, certas recordações renovariam o afeto originário e gerar-se-iam outras reações. Ou seja, o afeto seria convertido em fenômenos corporais. É a carga de afeto que corresponde à representação que produz o sintoma, e não o seu conteúdo. É da descrição da gênese do afeto, do motivo deste não ser descarregado pelas vias normais e do por que da especificidade dos reflexos anormais, que as Considerações teóricas irão tratar.

Breuer vai colocar todo o peso da explicação da gênese do sintoma histérico na afetividade. Não é surpreendente, portanto, que fale de uma teoria do afeto. Para examinar a questão da expressão anômala dos afetos, Breuer parte do funcionamento cortical normal, enfatizando o estudo das quantidades de excitação ou, como as denomina, da "excitação tônica intracerebral". Esta é a responsável pelas diferenças de operação do sistema nervoso.
As diferenças de condução cerebral são determinadas por dois estados limites: o sono sem sonhos e a vigília plena. No estado de vigília, em que as vias de condução operam normalmente, é possível um livre acesso à associação e à ação motora voluntária, enquanto que, no estado de sono, o processo associativo não se produz plenamente, não permitindo acesso à representação que constitui a consciência potencial.

A distinção entre o sono e a vigília remete diretamente à introdução dos estados hipnóides. Breuer afirma que o histérico, ao invés de dois estados psíquicos, apresenta três: a vigília, o estado hipnóide e o sono. A teoria dos estados hipnóides fornece as condições para a explicação da gênese psíquica dos fenômenos histéricos.

O estado hipnóide caracteriza-se por manter o nível de excitação intracerebral em níveis parecidos aos da vigília, mas o funcionamento representacional tem as características do estado de sono, ou seja, o decurso associativo é inibido.

Podemos dizer que a excitação tônica intracerebral possui um nível optimum, acima ou abaixo do qual há prejuízo no processo de representação. Se houver um aumento “... o que sobra drena-se em uma ação motriz carente de finalidade..." (BREUER, 1895, p.209).
Todas essas considerações prévias servirão para introduzir a noção de representação afetiva. Tudo decorre, segundo Breuer, de um aumento da excitação tônica intracerebral, em uma discussão que, mesmo usada a título de exemplo, também introduz a noção de sexualidade, pois nesta o aumento de excitação é tramitado em afeto por intermédio da representação; já no caso da fome e da sede, essas representações já trazem vinculadas consigo o afeto, pelo fato de serem "representações-meta", nas quais a natureza do afeto é a busca de satisfação e não a necessidade de controlá-lo, como no caso da sexualidade.

Podemos dizer que, para Breuer, uma representação afetiva comporta-se como uma representação sexual, pelo fato de ser "a fonte mais poderosa de aumentos de excitações persistentes (e, como tal, de neurose); este acréscimo de excitação se distribui de maneira em extremamente díspar pelo sistema nervoso" (BREUER, 1895, p.212). Na verdade, não é o acréscimo de excitação que constitui o lado psíquico dos afetos, mas sim a sua distribuição desigual pelo sistema nervoso, ou seja, a concentração da excitação em certos grupos de representações.

Se a descarga do afeto é impossível pelas vias de condução cerebral, o que teremos é a expressão anormal dos afetos, isto é, a conversão histérica. A distinção, feita anteriormente, entre os estados de sono e de vigília, servirá agora para a elucidação do processo de conversão somática do afeto. Na vigília, o processo associativo transcorre mais facilmente, já que as vias de condução da excitação encontram-se mais facilitadas. Isso significa que, no estado de sono, a facilitação transcorre de maneira defeituosa, pela impossibilidade de descarga da excitação pelas vias de condução (via motora e via associativa).

Se a esta impossibilidade de descarga da excitação, relacionada a um transbordamento da mesma, acrescenta-se uma fraqueza da resistência das vias em alguns pontos, a excitação é convertida em um fenômeno corporal.

Desse modo, se o afeto se converte em um reflexo anormal, o fenômeno histérico provém do afeto e não do processo representacional consciente; a representação que comportava o afeto, que foi drenado para o reflexo anormal, permanece como uma representação não percebida pelo sujeito, fora da consciência, excluída do processo associativo. Mas uma representação que se comporta dessa forma é o que se considera como uma representação inconsciente.

Trata-se, portanto, de uma representação inconsciente que tem eficácia psíquica atual. Para Freud essa eficácia psíquica atual dever-se-á às condições internas do próprio funcionamento representacional. Já para Breuer, dever-se-á a algo externo à representação: os estados hipnóides. Mais tarde, Freud vai dizer que essa eficácia é exercida através de uma outra representação substitutiva, a qual surge pela operação do recalque, ou seja, o investimento da representação recalcada é transposto para a representação substitutiva.

O contra-investimento é o investimento da representação substitutiva, como afirmará Freud no artigo meta psicológico sobre A repressão de 1915. Nesse sentido, o conceito de inconsciente dinâmico é esclarecido na medida em que é explicada a maneira pela qual as representações inconscientes exercem sua eficácia psíquica, ou seja, através das representações substitutivas. Daí, o conceito de inconsciente dinâmico freudiano. As representações inconscientes não preservam suas intensidades em si mesmas. A atividade psíquica representacional é decomposta em consciente e inconsciente, e as representações em suscetíveis e insuscetíveis de consciência.

A polêmica questão acerca de quem seria o precursor da psicanálise ronda os por muito tempo amigos Dr. Breuer e Sigmund Freud. Cranefield publicou uma carta em 12 de Novembro de 1907 de Joseph Breuer para Auguste Forel. Breuer determina seu papel na descoberta da psicanálise. As observações que Freud credita a Breuer são as quais Breuer clama para si. É também evidente pela carta que Breuer não acredita que seja possível tratar histeria sem habilidades especiais e treinamento. Ele credita a si mesmo a descoberta da significância patogênica das idéias inconscientes e da conscientização da importância dos “estados hipnóticos” e o desaparecimento de sintomas quando idéias inconscientes tornavam-se conscientes. Ele também se dá o crédito pela “terapia analítica”, porém ele não utiliza o uso da associação livre.

Na primeira de uma série de cinco conferências que pronunciou nos Estados Unidos, Freud relata a descoberta pelo Dr. Breuer do “método catártico”. Este método consistia em induzir os pacientes a recordar, através da associação de idéias sob hipnose, a ocasião e o motivo dos sintomas relacionados com a histeria, doença que transgredia os limites da ciência da época, pois escapava ao quadro clínico de uma afecção orgânica (FREUD, 1976, v. XI). Descoberto com o caso de Anna O., o “método semiótico e terapêutico” permitiu ao Dr. Breuer concluir que as “histéricas sofriam de reminiscência” e que os sintomas apresentados constituíam um tipo de resíduos (“precipitados”) de acontecimentos biográficos especiais, os traumas psíquicos. A complexidade estava em que mais de um trauma poderia ser causa de um único sintoma, tornando-se, nesses casos, necessário refazer toda a “cadeia de recordações patogênicas”, na ordem inversa de sua produção, indo-se do trauma mais recente até o trauma primeiro que teria dado origem à série. Mas, segundo Freud, fazia-se indispensável tirar duas outras conclusões para “conceber o mecanismo da moléstia e do restabelecimento”. A primeira era a de que as “cenas patogênicas” (os “traumas”) eram acompanhadas de forte retenção emocional. A segunda conclusão decorria da primeira, e consistia em as emoções que não tiveram “exteriorização normal” passarem a agir de forma inconsciente. Identificava-se, desse modo, uma “divisão da consciência” (uma dupla consciência), em que o primeiro agrupamento mental, “inconsciente”, determinava as disposições do segundo, a consciência propriamente dita. A “catarse” relativa ao método do Dr. Breuer era obtida, portanto, com a exteriorização dos traumas inconscientes implicando o afastamento das “fantasias perturbadoras” (os “sintomas”) atuantes no plano da consciência.

Em sua segunda conferência para o público americano, Freud conta como ele mesmo deu prosseguimento às investigações do Dr. Breuer, sempre com o objetivo de conseguir uma explicação eminentemente psicológica para o fenômeno da dissociação histérica. Narra então a descoberta da força de recalque a partir do momento que abandonou a técnica de hipnose, por tomar muito tempo, em proveito das associações dos pacientes em estado normal (algo próximo do impossível, pois “tratava-se de fazer o doente contar aquilo que ninguém, nem ele mesmo sabia” - FREUD, 1976, v. XI, p. 24 - mas que afinal deu certo). Pode-se definir, em poucas palavras, o recalque como a força que intervém para suprimir da consciência o desprazer resultante do conflito entre um desejo manifesto na cena patológica e os princípios éticos e estéticos do ego do indivíduo. A permanência do recalque, para impedir de vir à tona o que “deve” continuar esquecido, é provada pelo fato de muitas vezes na análise o paciente alegar “falha de memória”. Descobria-se, assim, uma nova etiologia para a histeria, que deriva do malogro do recalque, fazendo com que o desejo passe a funcionar de forma inconsciente, produzindo um “sucedâneo deformado” para a idéia original. Freud diz que o trazer o recalcado para a atividade consciente, na terapia, possibilita a solução do conflito, por três razões diversas. Ou porque o desejo pode ser aceito, mesmo que em parte. Ou porque ele é “sublimado”, dirigindo-se para outras funções. Ou ainda porque ele é conscientemente julgado como inconveniente. É importante notar que Freud vai adotar, mais tarde, o abandono da técnica da hipnose, e a conseqüente descoberta do recalque conduzindo ao princípio da “atividade mental inconsciente”, como o argumento principal para se considerar a si mesmo, e não o Dr. Breuer, o fundador do “método terapêutico hoje denominado ‘psicanálise’” (FREUD, 1976, v. XIV, p. 26).
No longo tempo no qual Dr. Breuer passou clinicando e pesquisando em sua casa, grandes descobertas no campo da medicina foram feitas, e juntamente com alguma parceria fizeram sucesso, algumas destas teorias são:

- Teoria de Breuer. Descrição: Uma teoria psicológica afirmando que os sintomas de afeições construídas ou suprimidas e traumas físicos não-negociados podem ser eliminados através da lembrança e trabalhando nos sentimentos do sujeito em conversas. Terapia baseada nesta teoria é conhecida como tratamento catártico, varrendo-chaminés, psicoterapia profunda ou terapia falada – a futura psicanálise de Sigmund Freud.

- Reflexo Hering-Breuer. Descrição: As reações de reflexo originadas dos pulmões e mediadas pelas fibras dos nervos vagos: inflação dos pulmões, expiração eliciting e deflação, inspiração estimuladora. Este foi um dos primeiros feedbacks mecânicos descobertos nas regulações fisiológicas. Por seu mecanismo muito simples, de envolver a traquéia no final de uma inspiração ou expiração, Breuer e Hering foram capazes de mostrar que o pulmão contém receptores que detectam o grau em que são esticados. Quando o pulmão é distendido pela inspiração, impulsos nervosos chegam ao pulmão e são transmitidos ao cérebro pelo nervo vago. Hering também descreveu o mecanismo de controle central para a pressão do sangue que se abolida causa as “Ondas de Hering”.

- Teoria Mach-Breuer. Descrição: A teoria para explicar as reações do órgão vestibular: no início e término da rotação da cabeça ocorre, nos canais semi-circulares do ouvido, um “swich” interno que move os pêlos da cristae ampullares e excita as reações vestibulares. O órgão vestibular é responsável pela percepção do movimento do próprio corpo. Ernst Mach, em Praga, experimentou em si próprio, enquanto os experimentos de Josef Breuer eram feitos em pessoas surdas.
Contribuições para a Psicologia

Os estudos de Josef Breuer em muito contribuíram para o desenvolvimento da Psicologia e até hoje ocupam um lugar de destaque dentro dessa ciência. A psicanálise não teria se desdobrado com tanto sucesso se não estivesse baseada em suas pesquisas. Breuer inventou sua catarse, ou terapia da conversa, que estaria baseada em sua teoria psicológica que afirma que os sintomas de afeições construídas ou suprimidas e traumas físicos não-negociados podem ser eliminados através da lembrança e trabalhando nos sentimentos do sujeito em conversas. Essa psicoterapia profunda seria a futura psicanálise de Sigmund Freud.
O método catártico seria um método semiótico e terapêutico que consistia em induzir os pacientes a recordar, através da associação de idéias sob hipnose, a ocasião e o motivo dos sintomas relacionados com a histeria. A “catarse” era obtida, portanto, com a exteriorização dos traumas inconscientes implicando o afastamento das “fantasias perturbadoras” (os “sintomas”) atuantes no plano da consciência.

O tratamento de Anna O. por Breuer foi o primeiro exemplo moderno da psicoterapia profunda por um longo período de tempo. Através do tratamento catártico, Breuer passou a hipnotizá-la e ela lhe falava sobre as visões que a perturbavam, método que a deixava mais calma e aliviada. A partir de então, médico e paciente passaram a rastrear o início de cada sintoma e, um a um, eles foram desaparecendo.

Breuer também participa com uma grande contribuição nas investigações sobre a histeria. Na obra “Estudos sobre a Histeria”, Breuer, juntamente com Freud, elabora uma teoria geral para a doença. Breuer vai colocar todo o peso da explicação da gênese do sintoma histérico na afetividade, relacionando a histeria à representação inconsciente que tem eficácia psíquica atual, que se deve a algo externo à representação: os estados hipnóides. E é fundamentando-se nessa idéia de Breuer que Freud mais tarde cria o conceito de inconsciente dinâmico. Freud sofreu influência de Breuer no estudo da explicação psicológica para o fenômeno da dissociação histérica. Apesar de abandonar a técnica de hipnose, a descoberta da força de recalque, que seria uma nova etiologia para a histeria, teve base no método hipnótico de Breuer.

O Dr. Josef Breuer credita a si mesmo a descoberta da significância patogênica das idéias inconscientes e da conscientização da importância dos “estados hipnóticos” e o desaparecimento de sintomas quando idéias inconscientes tornavam-se conscientes. Ele também se dá o crédito pela “terapia analítica”, porém ele não utiliza o uso da associação livre.


Breuer determina seu papel na descoberta da psicanálise, termo empregado pela primeira vez em 1896 e cuja invenção foi atribuída a ele. O abandono da técnica da hipnose, e a conseqüente descoberta do recalque conduzindo ao princípio da “atividade mental inconsciente”, foi o argumento principal usado por Freud para se considerar a si mesmo, e não o Dr. Breuer, o fundador do “método terapêutico hoje denominado ‘psicanálise’”. Mas se não fosse pela valiosa contribuição de Breuer, esse processo terapêutico poderia não ser tão evidente ou até mesmo nem existir.

Estudos Sobre a Histeria

Interior da Obra