quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Obras e Principais Idéias

A intenção nas Considerações teóricas, texto escrito por Breuer em 1895 como parte dos “Estudos sobre a Histeria” é a de uma elaboração teórica geral para a histeria. Para este fim, buscou-se a aproximação dos mecanismos da histeria traumática e da histeria corrente, de forma que esse mecanismo fosse comum a ambas. Isso porque parte-se do pressuposto de que toda histeria é resultado da reprodução de um trauma. Então, é da memória que se está falando e é nela que se deve procurar a explicação dos fenômenos histéricos. Lembremos a famosa frase de Breuer, ao final da parte I da Comunicação preliminar de 1893: "... o histérico padece, na maior parte, de reminiscências" (BREUER e FREUD, 1893, p.3). O mecanismo da conversão histérica vai ser remetido à memória. Se uma irrupção afetiva ocorre, o afeto ligado à representação que o provocou pode ser abreagido e, deste modo, "desgastado". Por outro lado, se não houver abreação, certas recordações renovariam o afeto originário e gerar-se-iam outras reações. Ou seja, o afeto seria convertido em fenômenos corporais. É a carga de afeto que corresponde à representação que produz o sintoma, e não o seu conteúdo. É da descrição da gênese do afeto, do motivo deste não ser descarregado pelas vias normais e do por que da especificidade dos reflexos anormais, que as Considerações teóricas irão tratar.

Breuer vai colocar todo o peso da explicação da gênese do sintoma histérico na afetividade. Não é surpreendente, portanto, que fale de uma teoria do afeto. Para examinar a questão da expressão anômala dos afetos, Breuer parte do funcionamento cortical normal, enfatizando o estudo das quantidades de excitação ou, como as denomina, da "excitação tônica intracerebral". Esta é a responsável pelas diferenças de operação do sistema nervoso.
As diferenças de condução cerebral são determinadas por dois estados limites: o sono sem sonhos e a vigília plena. No estado de vigília, em que as vias de condução operam normalmente, é possível um livre acesso à associação e à ação motora voluntária, enquanto que, no estado de sono, o processo associativo não se produz plenamente, não permitindo acesso à representação que constitui a consciência potencial.

A distinção entre o sono e a vigília remete diretamente à introdução dos estados hipnóides. Breuer afirma que o histérico, ao invés de dois estados psíquicos, apresenta três: a vigília, o estado hipnóide e o sono. A teoria dos estados hipnóides fornece as condições para a explicação da gênese psíquica dos fenômenos histéricos.

O estado hipnóide caracteriza-se por manter o nível de excitação intracerebral em níveis parecidos aos da vigília, mas o funcionamento representacional tem as características do estado de sono, ou seja, o decurso associativo é inibido.

Podemos dizer que a excitação tônica intracerebral possui um nível optimum, acima ou abaixo do qual há prejuízo no processo de representação. Se houver um aumento “... o que sobra drena-se em uma ação motriz carente de finalidade..." (BREUER, 1895, p.209).
Todas essas considerações prévias servirão para introduzir a noção de representação afetiva. Tudo decorre, segundo Breuer, de um aumento da excitação tônica intracerebral, em uma discussão que, mesmo usada a título de exemplo, também introduz a noção de sexualidade, pois nesta o aumento de excitação é tramitado em afeto por intermédio da representação; já no caso da fome e da sede, essas representações já trazem vinculadas consigo o afeto, pelo fato de serem "representações-meta", nas quais a natureza do afeto é a busca de satisfação e não a necessidade de controlá-lo, como no caso da sexualidade.

Podemos dizer que, para Breuer, uma representação afetiva comporta-se como uma representação sexual, pelo fato de ser "a fonte mais poderosa de aumentos de excitações persistentes (e, como tal, de neurose); este acréscimo de excitação se distribui de maneira em extremamente díspar pelo sistema nervoso" (BREUER, 1895, p.212). Na verdade, não é o acréscimo de excitação que constitui o lado psíquico dos afetos, mas sim a sua distribuição desigual pelo sistema nervoso, ou seja, a concentração da excitação em certos grupos de representações.

Se a descarga do afeto é impossível pelas vias de condução cerebral, o que teremos é a expressão anormal dos afetos, isto é, a conversão histérica. A distinção, feita anteriormente, entre os estados de sono e de vigília, servirá agora para a elucidação do processo de conversão somática do afeto. Na vigília, o processo associativo transcorre mais facilmente, já que as vias de condução da excitação encontram-se mais facilitadas. Isso significa que, no estado de sono, a facilitação transcorre de maneira defeituosa, pela impossibilidade de descarga da excitação pelas vias de condução (via motora e via associativa).

Se a esta impossibilidade de descarga da excitação, relacionada a um transbordamento da mesma, acrescenta-se uma fraqueza da resistência das vias em alguns pontos, a excitação é convertida em um fenômeno corporal.

Desse modo, se o afeto se converte em um reflexo anormal, o fenômeno histérico provém do afeto e não do processo representacional consciente; a representação que comportava o afeto, que foi drenado para o reflexo anormal, permanece como uma representação não percebida pelo sujeito, fora da consciência, excluída do processo associativo. Mas uma representação que se comporta dessa forma é o que se considera como uma representação inconsciente.

Trata-se, portanto, de uma representação inconsciente que tem eficácia psíquica atual. Para Freud essa eficácia psíquica atual dever-se-á às condições internas do próprio funcionamento representacional. Já para Breuer, dever-se-á a algo externo à representação: os estados hipnóides. Mais tarde, Freud vai dizer que essa eficácia é exercida através de uma outra representação substitutiva, a qual surge pela operação do recalque, ou seja, o investimento da representação recalcada é transposto para a representação substitutiva.

O contra-investimento é o investimento da representação substitutiva, como afirmará Freud no artigo meta psicológico sobre A repressão de 1915. Nesse sentido, o conceito de inconsciente dinâmico é esclarecido na medida em que é explicada a maneira pela qual as representações inconscientes exercem sua eficácia psíquica, ou seja, através das representações substitutivas. Daí, o conceito de inconsciente dinâmico freudiano. As representações inconscientes não preservam suas intensidades em si mesmas. A atividade psíquica representacional é decomposta em consciente e inconsciente, e as representações em suscetíveis e insuscetíveis de consciência.

A polêmica questão acerca de quem seria o precursor da psicanálise ronda os por muito tempo amigos Dr. Breuer e Sigmund Freud. Cranefield publicou uma carta em 12 de Novembro de 1907 de Joseph Breuer para Auguste Forel. Breuer determina seu papel na descoberta da psicanálise. As observações que Freud credita a Breuer são as quais Breuer clama para si. É também evidente pela carta que Breuer não acredita que seja possível tratar histeria sem habilidades especiais e treinamento. Ele credita a si mesmo a descoberta da significância patogênica das idéias inconscientes e da conscientização da importância dos “estados hipnóticos” e o desaparecimento de sintomas quando idéias inconscientes tornavam-se conscientes. Ele também se dá o crédito pela “terapia analítica”, porém ele não utiliza o uso da associação livre.

Na primeira de uma série de cinco conferências que pronunciou nos Estados Unidos, Freud relata a descoberta pelo Dr. Breuer do “método catártico”. Este método consistia em induzir os pacientes a recordar, através da associação de idéias sob hipnose, a ocasião e o motivo dos sintomas relacionados com a histeria, doença que transgredia os limites da ciência da época, pois escapava ao quadro clínico de uma afecção orgânica (FREUD, 1976, v. XI). Descoberto com o caso de Anna O., o “método semiótico e terapêutico” permitiu ao Dr. Breuer concluir que as “histéricas sofriam de reminiscência” e que os sintomas apresentados constituíam um tipo de resíduos (“precipitados”) de acontecimentos biográficos especiais, os traumas psíquicos. A complexidade estava em que mais de um trauma poderia ser causa de um único sintoma, tornando-se, nesses casos, necessário refazer toda a “cadeia de recordações patogênicas”, na ordem inversa de sua produção, indo-se do trauma mais recente até o trauma primeiro que teria dado origem à série. Mas, segundo Freud, fazia-se indispensável tirar duas outras conclusões para “conceber o mecanismo da moléstia e do restabelecimento”. A primeira era a de que as “cenas patogênicas” (os “traumas”) eram acompanhadas de forte retenção emocional. A segunda conclusão decorria da primeira, e consistia em as emoções que não tiveram “exteriorização normal” passarem a agir de forma inconsciente. Identificava-se, desse modo, uma “divisão da consciência” (uma dupla consciência), em que o primeiro agrupamento mental, “inconsciente”, determinava as disposições do segundo, a consciência propriamente dita. A “catarse” relativa ao método do Dr. Breuer era obtida, portanto, com a exteriorização dos traumas inconscientes implicando o afastamento das “fantasias perturbadoras” (os “sintomas”) atuantes no plano da consciência.

Em sua segunda conferência para o público americano, Freud conta como ele mesmo deu prosseguimento às investigações do Dr. Breuer, sempre com o objetivo de conseguir uma explicação eminentemente psicológica para o fenômeno da dissociação histérica. Narra então a descoberta da força de recalque a partir do momento que abandonou a técnica de hipnose, por tomar muito tempo, em proveito das associações dos pacientes em estado normal (algo próximo do impossível, pois “tratava-se de fazer o doente contar aquilo que ninguém, nem ele mesmo sabia” - FREUD, 1976, v. XI, p. 24 - mas que afinal deu certo). Pode-se definir, em poucas palavras, o recalque como a força que intervém para suprimir da consciência o desprazer resultante do conflito entre um desejo manifesto na cena patológica e os princípios éticos e estéticos do ego do indivíduo. A permanência do recalque, para impedir de vir à tona o que “deve” continuar esquecido, é provada pelo fato de muitas vezes na análise o paciente alegar “falha de memória”. Descobria-se, assim, uma nova etiologia para a histeria, que deriva do malogro do recalque, fazendo com que o desejo passe a funcionar de forma inconsciente, produzindo um “sucedâneo deformado” para a idéia original. Freud diz que o trazer o recalcado para a atividade consciente, na terapia, possibilita a solução do conflito, por três razões diversas. Ou porque o desejo pode ser aceito, mesmo que em parte. Ou porque ele é “sublimado”, dirigindo-se para outras funções. Ou ainda porque ele é conscientemente julgado como inconveniente. É importante notar que Freud vai adotar, mais tarde, o abandono da técnica da hipnose, e a conseqüente descoberta do recalque conduzindo ao princípio da “atividade mental inconsciente”, como o argumento principal para se considerar a si mesmo, e não o Dr. Breuer, o fundador do “método terapêutico hoje denominado ‘psicanálise’” (FREUD, 1976, v. XIV, p. 26).
No longo tempo no qual Dr. Breuer passou clinicando e pesquisando em sua casa, grandes descobertas no campo da medicina foram feitas, e juntamente com alguma parceria fizeram sucesso, algumas destas teorias são:

- Teoria de Breuer. Descrição: Uma teoria psicológica afirmando que os sintomas de afeições construídas ou suprimidas e traumas físicos não-negociados podem ser eliminados através da lembrança e trabalhando nos sentimentos do sujeito em conversas. Terapia baseada nesta teoria é conhecida como tratamento catártico, varrendo-chaminés, psicoterapia profunda ou terapia falada – a futura psicanálise de Sigmund Freud.

- Reflexo Hering-Breuer. Descrição: As reações de reflexo originadas dos pulmões e mediadas pelas fibras dos nervos vagos: inflação dos pulmões, expiração eliciting e deflação, inspiração estimuladora. Este foi um dos primeiros feedbacks mecânicos descobertos nas regulações fisiológicas. Por seu mecanismo muito simples, de envolver a traquéia no final de uma inspiração ou expiração, Breuer e Hering foram capazes de mostrar que o pulmão contém receptores que detectam o grau em que são esticados. Quando o pulmão é distendido pela inspiração, impulsos nervosos chegam ao pulmão e são transmitidos ao cérebro pelo nervo vago. Hering também descreveu o mecanismo de controle central para a pressão do sangue que se abolida causa as “Ondas de Hering”.

- Teoria Mach-Breuer. Descrição: A teoria para explicar as reações do órgão vestibular: no início e término da rotação da cabeça ocorre, nos canais semi-circulares do ouvido, um “swich” interno que move os pêlos da cristae ampullares e excita as reações vestibulares. O órgão vestibular é responsável pela percepção do movimento do próprio corpo. Ernst Mach, em Praga, experimentou em si próprio, enquanto os experimentos de Josef Breuer eram feitos em pessoas surdas.

Um comentário:

Maria disse...

Obrigado pelo post. Foi mesmo útil no meu estudo do reflexo de Hering-Breuer.